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cidadeagar

UMA NO CRAVO OUTRA NA FERRADURA

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UMA NO CRAVO OUTRA NA FERRADURA

AS REFEIÇÕES DA GANHARIA

28.09.12, José Rocha

No monte, as refeições da ganharia tinham lugar na chamada cozinha dos ganhões. Aí se sentavam em burros dispostos ao longo de uma mesa comprida e estreita. A cozinha dispunha igualmente de uma lareira espaçosa onde se podia cozinhar em panelas de ferro.
No Outono, no Inverno e na Primavera, as refeições da ganharia consistiam em almoço (antes do nascer do sol), merenda (ao meio-dia) e ceia (ao anoitecer).
Normalmente o almoço, ao levantar, constava de açorda acompanhada com azeitonas. A merenda, no local de trabalho, consistia em pão e queijo, um para cada homem e pão à descrição. A ceia, ao regressar do trabalho, baseava-se em olha com batatas e hortaliças, condimentadas em dias alternados com toucinho ou azeite. No dias de azeite, cada homem recebia meio queijo e azeitonas.
No Verão, as refeições da ganharia constavam de almoço (às sete da manhã), jantar (ao meio-dia) e merenda ou ceia, conforme se comia respectivamente ao sol-posto ou à noite. O almoço constava de sopas de cebola acompanhadas com azeitonas e meio queijo por cabeça.


“Triste vida a dum ganhão
agarrado ao rabanejo,
de manhã é calatrão [a]
ao meio dia pão e queijo.” [7]


O jantar consistia em olha de legumes com toucinho e morcela ou badana. A merenda ou ceia compunha-se de gaspacho acompanhado com azeitonas e meio queijo por homem. Em vez do gaspacho também podiam ser batatas cozidas temperadas com azeite e vinagre.
A mesa da cozinha dos ganhões era posta pelo abegão e pelo sota, que se sentavam cada um à sua cabeceira da mesa. A entrada dos ganhões na cozinha só se verificava depois do abegão ter bradado para o exterior: “Ao almoço!”, ”À ceia!” ou “Ao jantar!”, conforme a refeição de que se tratava. A malta acudia logo à chamada, tirava o chapéu e sentava-se à mesa sempre no mesmo lugar. O que era para comer já tinha sido previamente vazado pelo abegão e pelo sota, em grandes alguidares, conhecidos por “barranhões”. Só faltava migar as sopas de pão, o que cada um fazia puxando da navalha que trazia consigo. Lá diz o adagiário: "Sopa de ganhão, cada três um pão."
Amolecidas as sopas, o abegão dava ordem de comer, soltando um “Com Jesus!”. De cada barranhão comiam quatro a seis ganhões, cada um dos quais metia sempre a colher no mesmo local do barranhão, já que "Não há guerra de mais aparato que muitas mãos no mesmo prato."
O abegão e o sota comiam cada um deles em sua tigela, mais pequena que o barranhão e que era unicamente para cada um deles.
"A hora de comer é a da fome" e por isso, as refeições corriam sem pressas, em silêncio e ordeiramente, com cada um concentrado no acto de comer, já que "Quem não é para comer não é para trabalhar."
Durante as refeições, se alguém precisava de pedir qualquer coisa, batia com a navalha na mesa. Se alguém batesse no barranhão era para pedir a rodilha para se limpar.
Quando todos tinham deixado de comer, o abegão punha-se imediatamente de pé, o que correspondia a dar ordem de retirar, o que cada um fazia, voltando a pôr o chapéu na cabeça. No exterior ou na casa da malta era então chegada a altura dos fumadores puxarem da onça de tabaco e do livro de papel, para enrolarem um cigarro que acenderiam com fuzil e isca:


“O regalo do ganhão
É comer em prato cheio,
Beber vinho, se lh’o dão,
Fumar do tabaco alheio.”

 

Comentario deixado AQUI

 

ALMOÇO DOS GANHÕES - COMENTÁRIO

18.09.12, José Rocha

Foto de Rui Miguel Ramos

Memorizem esta data, 15 de Setembro de 2012. É minha convicção de que neste dia iremos todos nós Aguiarenses fazer um pouco de historia para a nossa vila. Um simples evento gastronómico poderá vir a tornar-se uma referencia para a nossa vila de Aguiar. (somos todos nós aguiarenses que decidimos esse futuro). Falando do evento em si acredito mesmo que os nossos antepassados ficariam orgulhosos se vissem esta singela homenagem prestada por todas as pessoas presentes, afinal de contas quantos de nós não fomos criados desta forma e quantas refeições não foram preparadas assim ao longo das nossas vidas.  Certo que não com tanta abundãncia em comida mas com a mesma ou mais dedicação e carinho com certeza. Mais uma vez há que agradecer a todos os envolvidos que ajudaram e trabalharam de forma activa, um obrigado ás cozinheiras (Rosinda e Inês) tanto pelo trabalho como pela indumentária, ao José Luís Rocha afinal de contas foi ele o grande mentor do projecto, incansável na promoção divulgação e organização e a todos os restantes é claro. Mas quem está mesmo de parabens são mesmo todas as pessoas presentes, mais uma vez OBRIGADO..  Para finalizar duas palavras para os poucos que criticam e pouco fazem "Tem Avondo".

Comentário de Eduardo Bandarra feito na página do evento no facebook.

QUE SE LIXE A TROIKA

13.09.12, José Rocha
 
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht